Faixa 3

sexta-feira

recusara os convites pra sair. não fora ao supermercado. agora encara duas garrafas de vodca na geladeira e decide – uma vez a cada segundo – que não vai abrir nenhuma. está cansado de curar solidão com decadência.

não seria difícil viver sem ela. não, não seria nem um pouco difícil. já tem treino, já faz anos. há outras mulheres no mundo. há paixões arrebatadoras de quinze segundos. há sexo casual, sexo cúmplice. há dinheiro. há diversão. há carros. há viagens. há a busca pelo luxo. há a busca pela sabedoria. há o budismo, a música, os livros, as causas nobres, as picuinhas, o poder, há até mesmo as improváveis possibilidades de amor. o problema são os restos dela que não se consegue matar.

a voz. o nome. a risada. os restos dela são como um dedo podre esmagado na palma da mão. ao mesmo tempo que é um apêndice inútil, não se pode soltá-lo. a única coisa que dá sentido à existência de um amputado é o membro descartado.

dentre as coisas que mais sente saudades está o choro. desde que sobreviveu, sofreu por muitas outras, mas todas as feridas que vieram só fizeram doer a ferida dela. quando depois foi deixado, quando abandonou, quando foi rejeitado e quando fugiu, era a ferida dela que se abria. pode dizer, com iguais porções de orgulho e tristeza, que na vida toda só chorou por uma pessoa.

5 Comments:

At 12:33 PM, Blogger Thiago said...

bonito

 
At 8:00 AM, Anonymous Anônimo said...

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At 5:18 PM, Anonymous Anônimo said...

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