Naquele tempo eu andava triste e carregava bombons de licor nos bolsos da calça. Era difícil aquele tempo. Graça também não me ajudava muito, naquele tempo. Ela corria seus dedos de pluma pelo meu pescoço e depois me fazia gozar com um boquete, mas isso era tudo. Qualquer prazer que não fosse físico, Graça me negava. Tinha certo encantamento, mas era essencialmente triste: o tempo, Graça, o prazer e, até mesmo, os bombons de licor.
Eu via a tristeza nas paredes, como chuva, ou rolando pelos móveis como mercúrio de termômetro quebrado. Nunca persegui a tristeza, mas ela sempre voltava, escura e tóxica. Mais ou menos como Graça. Não foram muitas as mulheres que tive depois de conhecê-la, buscava outras apenas quando ela passava muitos dias sem aparecer ou quando vinha cansada e sua língua não rodopiava como de costume. Eu era fiel, a meu modo incerto de fidelidade.
Na última vez que Graça veio, cometi a estupidez de tentar ser gentil e lhe ofereci os bombons que eu vinha alisando no bolso. Ela tomou ares de ofendida e disse ser claro que não queria. Perguntei porque, mesmo sabendo que o silêncio é a melhor ação diante do que não se entende. Ela sugeriu que eu guardasse meus bombons para as outras mulheres que ela sabia que eu tinha, ela é que não ia querer nada de mim. Aí estava, ela não queria nada de mim. Então, porque, meu deus, tanto esforço em me agradar?
- Para te fazer menos solitário - ela disse quase com vergonha.
Esmaguei um dos de cereja e tive vontade de chorar.
- Você não está conseguindo.
4 Comments:
deu vontade de comer um bombom de cereja, tipo Sensação.
sensação é de morango
bah.
bahhhhh
dialogo mais fantástico dos últimos tempos.
eu sempre achei que sensação fosse de cereja...
uma dúvida: depois de esmagar o bombom, ele lambeu o chocolate dos dedos, lavou com sabão, esfregou na sua camiseta branca para parecer bem melodramático ou simplesmente dormiu com lágrimas no rosto e chocolate nos dedos?
Postar um comentário
<< Home